Questão 670601: Texto 1

Texto 1Triste fim de Policarpo QuaresmaLima Barreto


Texto 1
Triste fim de Policarpo Quaresma
Lima Barreto

Como lhe parecia ilógico com ele mesmo estar 
ali metido naquele estreito calabouço. Pois ele,
o Quaresma plácido, o Quaresma de tão profundos
pensamentos patrióticos, merecia aquele triste fim?
5 De que maneira sorrateira o Destino o arrastara até
ali, sem que ele pudesse pressentir o seu extravagante 
propósito, tão aparentemente sem relação com o
resto da sua vida? (...)
Devia ser por isso que estava ali naquela
10 masmorra, engaiolado, trancafiado, isolado dos seus
semelhantes como uma fera, como um criminoso, sepultado 
na treva, sofrendo umidade, misturado com
os seus detritos, quase sem comer... Como acabarei?
Como acabarei? E a pergunta lhe vinha, no meio da
15 revoada de pensamentos que aquela angústia provocava 
pensar. Não havia base para qualquer hipótese.
Era de conduta tão irregular e incerta o Governo que
tudo ele podia esperar: a liberdade ou a morte, mais
esta que aquela. (...)
20 Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe
absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. 
Que lhe importavam os rios? Eram grandes?
Pois que fossem... Em que lhe contribuiria para a felicidade 
saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada...
25 O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não.
Lembrou-se das suas cousas de tupi, do folclore, das
suas tentativas agrícolas... Restava disso tudo em sua
alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma! (...)
A Pátria que quisera ter era um mito; era um
30 fantasma criado por ele no silêncio do seu gabinete.
Nem a física, nem a moral, nem a intelectual, nem a
política, que julgava existir, havia. A que existia, de
fato, era a do Tenente Antonino, a do Doutor Campos,
a do homem do Itamarati.
Excerto. BARRETO, Lima. Triste fm de Policarpo Quaresma. In:
http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/policarpoE.pdf p. 383-387
  

No excerto em análise, há predominância do discurso