Texto 3
1. Dupin foi até o banheiro, ficou alguns minutos, outros tantos na cozinha,
percorreu a sala, demorou-se diante de duas gravuras, uma de Goeldi, outra de
Carlos Scliar, antes de sentar depositou no canto da mesinha perto da janela o coco
da Bahia, repetindo “bom, bom”, perguntei “ quer outro?”, sorriu “não, vou noutra
5. cachacinha” “ quem sabe prefere uma caipirinha?” “caipirinha” “ é, é, cachaça,
limão, açúcar, pedrinha de gelo”, “vai estragar a cachaça” e sem interrupção: “esta
casa de madeira é um arremedo, não lhe parece, do apartamento?”, antes que
tivesse tempo de responder ouvi o ranger da porta se abrindo e, sem conseguir
identificá-las, quatro vozes “Boa noite!”, logo uma voz se destaca “com esta floresta
10. encobrindo a casa tanto pode ser boa manhã, bom dia, boa tarde, boa noite, bom
amanhecer; outra voz, a do comissário, indagou “Quem é este?” “É um amigo,
puxem cadeira, sentem. Espero que em pouco tempo os nós sejam desfeitos. Foi
bom vocês aceitarem, eu estava ficando desesperado, mandei toda a
documentação para alguém que admiro, August Dupin, mas nem ele conseguiu
15. desfazer os nós, teve a consideração de vir até aqui, e agora, com a presença de
vocês, vamos ver o que podemos fazer.”
Dupin foi sucinto: “Vou começar pela ordem dos documentos que recebi, com o Tu”.
MIGUEL, Salim. Nós. Florianópolis: Editora da UFSC. 2015,pp 70-71.