Leia o texto a seguir. Era de jurema o bosque sagrado. Em torno corriam os troncos rugosos da árvore de Tupã; dos galhos pendiam
ocultos pela rama escura os vasos do sacrifício; lastravam o chão as cinzas de extinto fogo, que servira à festa
da última lua. Antes de penetrar o recôndito sítio, a virgem que conduzia o guerreiro pela mão hesitou, inclinando o ouvido sutil
aos suspiros da brisa. Todos os ligeiros rumores da mata tinham uma voz para a selvagem filha do sertão. Nada
havia porém de suspeito no intenso respiro da floresta. Iracema fez ao estrangeiro um gesto de espera e silêncio, e depois desapareceu no mais sombrio do bosque. O
Sol ainda pairava suspenso no viso da serrania; e já noite profunda enchia aquela solidão. Quando a virgem tornou, trazia numa folha gotas de verde e estranho licor vazadas da igaçaba, que ela tirara do
seio da terra. Apresentou ao guerreiro a taça agreste. — Bebe! Martim sentiu perpassar nos olhos o sono da morte; porém logo a luz inundou-lhe os seios d’alma; a força
exuberou em seu coração. Reviveu os dias passados melhor do que os tinha vivido: fruiu a realidade de suas
mais belas esperanças. Ei-lo que volta à terra natal, abraça sua velha mãe, revê mais lindo e terno o anjo puro dos amores infantis. Mas por que, mal de volta ao berço da pátria, o jovem guerreiro de novo abandona o teto paterno e demanda o
sertão?
Já atravessa as florestas; já chega aos campos do Ipu. Busca na selva a filha do pajé. Segue o rastro ligeiro da
virgem arisca, soltando à brisa com o crebro suspiro o doce nome: — Iracema! Iracema!... ALENCAR, José de. Iracema . São Paulo: Saraiva, 2006. p. 28. O trecho apresentado é uma transcrição do livro Iracema , de José de Alencar, sobre o qual se verifica o seguinte:
a) Martim é doente vitimado por psicoses associadas à esquizofrenia.
b) Igaçaba é um recipiente usado para produzir alucinógenos sintéticos.
c) Jurema é uma planta de uso indígena com potente efeito alucinógeno.
d) Ipu é um eufemismo da experiência espiritual pós-morte da personagem.
e) Iracema é o nome chamado pelo guerreiro em pleno delírio persecutório.