Questões de Vestibular: Português

Prepare-se para a prova com questões de Português de Enem e Vestibulares! Milhares de questões resolvidas e comentadas com gabarito para praticar online ou baixar o PDF!

Filtrar questões
💡 Caso não encontre resultados, diminua os filtros.
Limpar filtros

21 Q687675 | Literatura, Escolas Literárias, Português, UNICENTRO, UNICENTRO

Na interação verbal entre Susanita e Mafalda, o humor é desencadeado pelo neologismo INVEJÓLOGO, criado para designar a futura especialidade médica do “filho da D. Susanita”. O processo de formação dessa palavra indica

22 Q682397 | Literatura, Português, UECE, UECE CEV, 2020

Texto associado.

TEXTO 1
Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.

ANDRADE, Oswald. Obras completas.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972.


TEXTO 2
Samba do Arnesto

O Arnesto nos convidô prum samba,
[ele mora no Brás
Nóis fumo e não encontremos ninguém
Nóis vortemo cuma baita duma reiva
Da outra veiz nóis num vai mais
Nóis não semos tatu!
Outro dia encontremo com o Arnesto
Que pidiu descurpa mais nóis não aceitemos
Isso não se faz, Arnesto, nóis não se importa
Mais você devia ter ponhado um recado na
[porta
Anssim: “Ói, turma, num deu prá esperá
A vez que isso num tem importância,
[num faz má
Depois que nóis vai, depois que nóis vorta
Assinado em cruz porque não sei escrever
Arnesto"


BARBOSA, Adoniran, Gravações Elétricas
Continental S/A, 1953.
A característica da temática e do estilo próprios da escrita literária de Oswald de Andrade que NÃO está presente no poema “Pronominais” é

23 Q681199 | Português, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto, Português, UNICENTRO, UNICENTRO

Texto associado.
Leia a crônica a seguir e responda à questão.

Receita para mal de amor

Minha querida amiga:
Sim, é para você mesma que estou escrevendo – você que aquela noite disse que estava com vontade de me pedir conselhos, mas tinha vergonha e achava que não valia a pena, e acabou me formulando uma pergunta ingênua:
– Como é que a gente faz para esquecer uma pessoa?
E logo depois me pediu que não pensasse nisso e esquecesse a pergunta, dizendo que achava que tinha bebido um ou dois uísques a mais...
Sei como você está sofrendo, e prefiro lhe responder assim pelas páginas de uma revista – fazendo de conta que me dirijo a um destinatário suposto.
Destinatário, destinatária... Bonita palavra: não devia querer dizer apenas aquele ou aquela a quem se destina uma carta, devia querer dizer também a pessoa que é dona do destino da gente. Joana é minha destinatária. Meu destino está em suas mãos; a ela se destinam meus pensamentos, minhas lembranças, o que sinto e o que sou: todo este complexo mais ou menos melancólico e todavia tão veemente de coisas que eu nasci e me tornei.
Se me derem para encher uma fórmula impressa ou uma ficha de hotel eu poderei escrever assim:
Procedência – São Paulo; Destino – Joana. Pois é somente para ela que eu marcho. No táxi, no bonde, no avião, na rua, não interessa a direção em que me movo, meu destino é Joana. Que importa saber que jamais chegarei ao meu destino?
Isso eu gostaria de lhe dizer, minha amiga, com a autoridade triste do mais vivido e mais sofrido: amar é um ato de paciência e de humildade; é uma longa devoção. Você me responderá que não é nada disso; que você já chegou ao seu destinatário e foi devolvida como se fosse uma carta com o endereço errado.
Que teve alguns dias, algumas horas de felicidade, e por isso agora sofre de maneira insuportável. Então lhe aconselho a comprar um canivete bem amolado e afinar dezoito pedacinhos de pau até ficarem bem pontudos, bem lisos, perfeitamente torneados – e depois deixá-los a um canto. Apanhar uma folha de papel tamanho ofício e enchê-la com o nome de seu amado, escrevendo uma letra bem bonita, de preferência com tinta azul. Em seguida faça com essa folha um aviãozinho, e o jogue pela janela.
Observe o voo e a aterrissagem. Depois desça, vá lá fora, apanhe o avião de papel, desdobre a folha novamente (pode passá-la a ferro, para o serviço ficar mais perfeito e não haver mais nenhum indício da construção aeronáutica) e volte a dobrá-la, desta vez ao meio. Dobre outras vezes, até obter o menor retângulo possível. Então, com o canivete, vá cortando as partes dobradas até transformar toda a folha em minúsculos papeizinhos, tão pequenos que o nome de seu amado não deve caber inteiro em nenhum deles. Aí, apanhe todos aqueles pauzinhos que tinha deixado a um canto e, com os pedacinhos de papel, faça uma fogueira com o máximo cuidado até que restem somente cinzas. A seguir poderá repetir a operação...
– Adianta alguma coisa?
Por favor, querida amiga, não me faça esta pergunta. Nada adianta coisa alguma, a não ser o tempo; e fazer fogueirinhas é um meio tão bom quanto qualquer outro de passar o tempo.

(BRAGA, R. A Traição das Elegantes. Rio de Janeiro: Record, 1982. p.17.)
Acerca das características gerais da crônica, atribua V (verdadeiro) ou F (falso) às afirmativas a seguir.
( ) Seu destinatário é Joana, seu grande amor. ( ) O uso do pronome de tratamento “você” traz uma esfera de intimidade com o leitor. ( ) Não é possível identificar o destinatário da carta. ( ) O tom da conversa é quebrado pelo uso formal da linguagem. ( ) É uma resposta ao questionamento sobre a relação amorosa.
Assinale a alternativa que contém, de cima para baixo, a sequência correta.

24 Q687670 | Português, Orações subordinadas adjetivas Restritivas, Português, UNICENTRO, UNICENTRO

Texto associado.
Leia o texto a seguir e responda à questão:

Viver em cima do muro é prejudicial à saúde
Élida Ramirez
Ocre. Sempre me incomodou essa cor. Sabe aquele marrom amarelado? O tal burro fugido? Exato isso! Quando vejo alguém com roupa ocre, tenho maior aflição. Certa feita, entrei em um consultório médico to-di-nho ocre. Paredes, chão, quadros. Tive uma gastura horrorosa. A sensação é que o ocre existe no dilema de não ser amarelo nem marrom. Invejando o viço das outras colorações definidas e nada fazendo para mudar sua tonalidade. Isso explica meu desconforto. O ocre, para mim, ultrapassa o sentido de cor. Ele dá o tom da existência do viver em cima do muro. E conviver com gente assim é um transtorno.
É fato que a tal “modernidade líquida”, definida por Bauman, favorece o comportamento. Pensemos. Segundo o sociólogo, a globalização trouxe o encurtamento das distâncias, borrando fronteiras. E, ao reconfigurar esses limites geográficos, mudou a concepção de si do sujeito bem como sua relação com as instituições. Muito rapidamente houve um esfacelamento de estruturas rígidas como a família e o estado. Essa mudança do sólido para líquido detonou o processo de individualização generalizado no mundo ocidental reforçando o conceito de que “Nada é para durar” (Bauman). Então, desse jeito dá para ser mutante pleno nesse viver em cima do muro. Nem amarelo ou marrom. Ocre. Por isso, discursos ocos de pessoas com personalidades fluidas ganham espaço. E vão tomando a forma do ambiente, assim como a água. Uma fusão quase nebulosa que embaça o comprometimento.
Nota-se ainda certo padrão do viver em cima do muro. Como uma receitinha básica. Vejam só: Misture meias palavras em um discurso politicamente correto. Inclua, com ar de respeito, a posição contrária. Cozinhe em banho-maria. Deixe descansar, para sempre, se puder. Se necessário, volte ao fogo brando. Não mexa mais. Sirva morno. Viu? Simples de fazer. Difícil é digerir.
É porque, na prática, a legião de ocres causa a maior complicação. Quem vive do meio de campo, sem decidir sua cor publicamente, não tem o inconveniente de arcar com as escolhas. Quase nunca se tornará um desafeto. Fará pouco e, muitas vezes, será visto com um sujeito comedido. Quem não escolhe tem mais liberdade para mudar de ideia. Não fica preso ao dito anteriormente. Exatamente porque não disse nada. Não se comprometeu com nada. Apenas proferiu ideias genéricas e inconclusivas estando liberado para transitar por todos os lados, segundo sua necessidade. Ao estar em tudo não estando em nada, seja para evitar responsabilidades, não se expor à crítica ou fugir de polêmicas, o em cima do muro se esconde, sobrecarrega e expõe aqueles que bancam opiniões.
Portanto, conviver com quem não toma posição, de forma crônica, atrasa a vida. Ao se esquivar de escolher, o indivíduo condena o outro a fazê-lo em seu lugar. Reconheço que, às vezes, a gente leva tempo para se decidir por algo. Todos temos medos que nos impedem de agir. Mas ouso dizer: nunca tomar partido nas situações é covardia. Parece, inclusive, que o viver em cima do muro é mais confortável que a situação do mau-caráter. É que o sacana, ao menos, se define. Embora atue na surdina, sua ação reflete um posicionamento. Já o indefinido, não. Ele vive na toada do alheio. E, curiosamente, também avacalha o próprio percurso por delegar ao outro a sua existência.
Recorro outra vez a Bauman para esclarecer: “Escapar da incerteza é um ingrediente fundamental presumido, de todas e quaisquer imagens compósitas da felicidade genuína, adequada e total, sempre parece residir em algum lugar à frente”. Por isso, atenção! Viver em cima do muro é prejudicial à sua própria saúde. Facilita a queda e impede novos caminhos. Um deles, o da alegria de poder ser. Talvez seja isso a que Bauman se refere quando trata da fuga da incerteza para alcançar a felicidade genuína. E, pensando bem, desconheço imagem de alegria predominantemente ocre.
Texto adaptado e disponível em: https://www.revistabula.com/16514-viver-em-cima-do-muro-e-prejudicial-a-saude/. Acesso em 14 de ago. 2018.
Identifique a alternativa que apresenta uma explicação correta para a pontuação do período.

25 Q687672 | Português, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto, Português, UNICENTRO, UNICENTRO

Texto associado.
Texto para a questão:
Não há vagas
Ferreira Gullar
O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão

O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras

- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas

Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço

O poema, senhores,
não fede
nem cheira

Gullar, Ferreira in 'Antologia Poética'. Disponível em Acesso em 08 de ago. 2018.
Considerando os verbos que foram empregados no texto e as relações sintáticas que estabelecem, analise as afirmativas abaixo.
I. A expressão verbal se acorda está empregada na forma pronominal, portanto o pronome se é classificado como objeto indireto. II. A oração “Foi venerada em todos os tempos” foi formada com a voz passiva do verbo venerar e seu sujeito paciente é retomado da oração anterior.
III. O verbo trazer que aparece no primeiro parágrafo é um verbo irregular e está empregado no tempo presente do modo subjuntivo.
IV. Os verbos ambicionar e trabalhar que foram usados no segundo parágrafo, no tempo presente do modo indicativo, se empregados no pretérito mais que perfeito do mesmo modo verbal, apresentariam as seguintes formas: ambicionara e trabalhara.
V. A forma verbal se aproxima é pronominal, o se é um pronome oblíquo reflexivo e exerce a função sintática de objeto direto reflexivo.
É correto apenas o que se afirma na alternativa

26 Q681201 | Texto associado, Interpretação de Textos, Português, UNICENTRO, UNICENTRO

Texto associado.
Leia a crônica a seguir e responda à questão.

Receita para mal de amor

Minha querida amiga:
Sim, é para você mesma que estou escrevendo – você que aquela noite disse que estava com vontade de me pedir conselhos, mas tinha vergonha e achava que não valia a pena, e acabou me formulando uma pergunta ingênua:
– Como é que a gente faz para esquecer uma pessoa?
E logo depois me pediu que não pensasse nisso e esquecesse a pergunta, dizendo que achava que tinha bebido um ou dois uísques a mais...
Sei como você está sofrendo, e prefiro lhe responder assim pelas páginas de uma revista – fazendo de conta que me dirijo a um destinatário suposto.
Destinatário, destinatária... Bonita palavra: não devia querer dizer apenas aquele ou aquela a quem se destina uma carta, devia querer dizer também a pessoa que é dona do destino da gente. Joana é minha destinatária. Meu destino está em suas mãos; a ela se destinam meus pensamentos, minhas lembranças, o que sinto e o que sou: todo este complexo mais ou menos melancólico e todavia tão veemente de coisas que eu nasci e me tornei.
Se me derem para encher uma fórmula impressa ou uma ficha de hotel eu poderei escrever assim:
Procedência – São Paulo; Destino – Joana. Pois é somente para ela que eu marcho. No táxi, no bonde, no avião, na rua, não interessa a direção em que me movo, meu destino é Joana. Que importa saber que jamais chegarei ao meu destino?
Isso eu gostaria de lhe dizer, minha amiga, com a autoridade triste do mais vivido e mais sofrido: amar é um ato de paciência e de humildade; é uma longa devoção. Você me responderá que não é nada disso; que você já chegou ao seu destinatário e foi devolvida como se fosse uma carta com o endereço errado.
Que teve alguns dias, algumas horas de felicidade, e por isso agora sofre de maneira insuportável. Então lhe aconselho a comprar um canivete bem amolado e afinar dezoito pedacinhos de pau até ficarem bem pontudos, bem lisos, perfeitamente torneados – e depois deixá-los a um canto. Apanhar uma folha de papel tamanho ofício e enchê-la com o nome de seu amado, escrevendo uma letra bem bonita, de preferência com tinta azul. Em seguida faça com essa folha um aviãozinho, e o jogue pela janela.
Observe o voo e a aterrissagem. Depois desça, vá lá fora, apanhe o avião de papel, desdobre a folha novamente (pode passá-la a ferro, para o serviço ficar mais perfeito e não haver mais nenhum indício da construção aeronáutica) e volte a dobrá-la, desta vez ao meio. Dobre outras vezes, até obter o menor retângulo possível. Então, com o canivete, vá cortando as partes dobradas até transformar toda a folha em minúsculos papeizinhos, tão pequenos que o nome de seu amado não deve caber inteiro em nenhum deles. Aí, apanhe todos aqueles pauzinhos que tinha deixado a um canto e, com os pedacinhos de papel, faça uma fogueira com o máximo cuidado até que restem somente cinzas. A seguir poderá repetir a operação...
– Adianta alguma coisa?
Por favor, querida amiga, não me faça esta pergunta. Nada adianta coisa alguma, a não ser o tempo; e fazer fogueirinhas é um meio tão bom quanto qualquer outro de passar o tempo.

(BRAGA, R. A Traição das Elegantes. Rio de Janeiro: Record, 1982. p.17.)
Acerca dos recursos linguísticos presentes na crônica, assinale a alternativa correta.

27 Q681202 | Português, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto, Português, UNICENTRO, UNICENTRO

Texto associado.
Leia o texto a seguir e responda à questão.

Internet é coisa do passado

Para especialista, humanos estarão cada vez mais integrados com tecnologia. Não, um futurista não é alguém que veio do futuro para nos prevenir a respeito do domínio das máquinas e o início de uma guerra sem fim. Muito pelo contrário, Tiago Mattos é multiempreendedor, educador, palestrante e formado pela Singularity University como futurista e seu trabalho é entender que tendências a tecnologia está seguindo. Para entrar no curso, o empreendedor gaúcho de 35 anos de idade foi avaliado com a capacidade de impactar um bilhão de pessoas em dez anos. De acordo com ele, a revolução da Internet já passou e, agora, o futuro aponta para uma integração cada vez maior entre homens e tecnologias. A Singularity University é uma iniciativa da NASA em parceria com o Google e tem como meta principal discutir e encontrar novos caminhos da cultura digital e pós-digital. “O pensamento humano é linear. Já o pensamento dos computadores funciona de acordo com uma lógica exponencial. A cada dezoito meses, mais ou menos, nossa capacidade duplica. Por isso, a velocidade da evolução é cada vez maior”, explica Mattos. Depois da Internet, segundo as discussões da Singularity, três novas revoluções em curso ditam as tendências do futuro próximo: genética/biotecnologia, nanotecnologia e robótica/inteligência artificial. Mattos explica que os anos de 1980 foram transformados pela computação, os 1990 pela Internet e os 2000/2010 viveram o advento dos sensores e da Internet das coisas, agora, o momento já é outro. As interações entre os objetos e os humanos devem se intensificar e se complexificar. “Este é um processo irreversível. Se já temos smartphone, SmarTVs... as coisas ficarão cada vez mais “espertas” e nós, humanos, somos apenas mais uma dessas coisas”, afirma Tiago.

As novas revoluções já começaram

Talvez, para um terráqueo das antigas, muito pode parecer roteiro de ficção científica, mas as três revoluções citadas por Mattos já estão a pleno vapor. Pesquisas para desenvolvimento de órgãos humanos com impressoras 3D, realidade aumentada para uso pedagógico em simulações de situações de risco e funções de dispositivos móveis capazes de monitorar condições médicas dos usuários ou acessar dados bancários remotamente são exemplos de como essas novas tecnologias já estão em nosso dia a dia. E, pelo visto, vem muito mais por aí.

(Adaptado de: RODRIGUES, Ennio. Internet é coisa do passado. Disponível em:<https://super.abril.com.br/tecnologia/internet-e-coisa-do-passado/>. Acesso em: 21 jul. 2015.)
Com base no texto, assinale a alternativa correta.

28 Q687664 | Português, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto, Português, UNICENTRO, UNICENTRO

Texto associado.
Leia o texto a seguir e responda à questão:

Viver em cima do muro é prejudicial à saúde
Élida Ramirez
Ocre. Sempre me incomodou essa cor. Sabe aquele marrom amarelado? O tal burro fugido? Exato isso! Quando vejo alguém com roupa ocre, tenho maior aflição. Certa feita, entrei em um consultório médico to-di-nho ocre. Paredes, chão, quadros. Tive uma gastura horrorosa. A sensação é que o ocre existe no dilema de não ser amarelo nem marrom. Invejando o viço das outras colorações definidas e nada fazendo para mudar sua tonalidade. Isso explica meu desconforto. O ocre, para mim, ultrapassa o sentido de cor. Ele dá o tom da existência do viver em cima do muro. E conviver com gente assim é um transtorno.
É fato que a tal “modernidade líquida”, definida por Bauman, favorece o comportamento. Pensemos. Segundo o sociólogo, a globalização trouxe o encurtamento das distâncias, borrando fronteiras. E, ao reconfigurar esses limites geográficos, mudou a concepção de si do sujeito bem como sua relação com as instituições. Muito rapidamente houve um esfacelamento de estruturas rígidas como a família e o estado. Essa mudança do sólido para líquido detonou o processo de individualização generalizado no mundo ocidental reforçando o conceito de que “Nada é para durar” (Bauman). Então, desse jeito dá para ser mutante pleno nesse viver em cima do muro. Nem amarelo ou marrom. Ocre. Por isso, discursos ocos de pessoas com personalidades fluidas ganham espaço. E vão tomando a forma do ambiente, assim como a água. Uma fusão quase nebulosa que embaça o comprometimento.
Nota-se ainda certo padrão do viver em cima do muro. Como uma receitinha básica. Vejam só: Misture meias palavras em um discurso politicamente correto. Inclua, com ar de respeito, a posição contrária. Cozinhe em banho-maria. Deixe descansar, para sempre, se puder. Se necessário, volte ao fogo brando. Não mexa mais. Sirva morno. Viu? Simples de fazer. Difícil é digerir.
É porque, na prática, a legião de ocres causa a maior complicação. Quem vive do meio de campo, sem decidir sua cor publicamente, não tem o inconveniente de arcar com as escolhas. Quase nunca se tornará um desafeto. Fará pouco e, muitas vezes, será visto com um sujeito comedido. Quem não escolhe tem mais liberdade para mudar de ideia. Não fica preso ao dito anteriormente. Exatamente porque não disse nada. Não se comprometeu com nada. Apenas proferiu ideias genéricas e inconclusivas estando liberado para transitar por todos os lados, segundo sua necessidade. Ao estar em tudo não estando em nada, seja para evitar responsabilidades, não se expor à crítica ou fugir de polêmicas, o em cima do muro se esconde, sobrecarrega e expõe aqueles que bancam opiniões.
Portanto, conviver com quem não toma posição, de forma crônica, atrasa a vida. Ao se esquivar de escolher, o indivíduo condena o outro a fazê-lo em seu lugar. Reconheço que, às vezes, a gente leva tempo para se decidir por algo. Todos temos medos que nos impedem de agir. Mas ouso dizer: nunca tomar partido nas situações é covardia. Parece, inclusive, que o viver em cima do muro é mais confortável que a situação do mau-caráter. É que o sacana, ao menos, se define. Embora atue na surdina, sua ação reflete um posicionamento. Já o indefinido, não. Ele vive na toada do alheio. E, curiosamente, também avacalha o próprio percurso por delegar ao outro a sua existência.
Recorro outra vez a Bauman para esclarecer: “Escapar da incerteza é um ingrediente fundamental presumido, de todas e quaisquer imagens compósitas da felicidade genuína, adequada e total, sempre parece residir em algum lugar à frente”. Por isso, atenção! Viver em cima do muro é prejudicial à sua própria saúde. Facilita a queda e impede novos caminhos. Um deles, o da alegria de poder ser. Talvez seja isso a que Bauman se refere quando trata da fuga da incerteza para alcançar a felicidade genuína. E, pensando bem, desconheço imagem de alegria predominantemente ocre.
Texto adaptado e disponível em: https://www.revistabula.com/16514-viver-em-cima-do-muro-e-prejudicial-a-saude/. Acesso em 14 de ago. 2018.
De acordo com o texto, um dos ingredientes da “receitinha básica” para se viver em cima do muro é misturar “meias palavras em um discurso politicamente correto”. Disso depreende-se que é necessário
Utilizamos cookies e tecnologias semelhantes para aprimorar sua experiência de navegação. Política de Privacidade.