Texto associado. O trecho que segue é da personagem Olga, de Triste Fim de Policarpo Quaresma , romance de Lima Barreto.
O que mais a impressionou no passeio foi a miséria geral, a falta de cultivo, a pobreza das casas, o ar triste, abatido da gente pobre. (...) Havendo tanto barro, tanta água, por que as casas não eram de tijolos e não tinham telhas? Era sempre aquele sapê sinistro e aquele “sopapo” que deixava ver a trama de varas, como o esqueleto de um doente. Por que ao redor dessas casas não havia culturas, uma horta, um pomar? (...) Não podia ser preguiça só ou indolência. Para o seu gasto, para uso próprio, o homem tem sempre energia para trabalhar relativamente. (...) Seria a terra? Que seria? E todas essas questões desafiavam a sua curiosidade, o seu desejo de saber, e também a sua piedade e simpatia por aqueles párias, maltrapilhos, mal alojados, talvez com fome, sorumbáticos!...
(Lima Barreto, Triste Fim de Policarpo Quaresma )
(...) O mal du siècle , a indefinível doença que alanceia os românticos, que lhes
enlanguesce a vontade, entedia a vida e faz
desejar a morte, só poderá ser correctamente entendido no contexto da odisseia do
eu romântico, pois que exprime o cansaço e
a frustração resultantes da impossibilidade
de realizar o absoluto. (...)
(Vítor Manuel de Aguiar e Silva, Teoria da Literatura ,
8.ª edição, Livraria Almedina, Coimbra, 1988)
A partir das considerações sobre o “mal-do-século”, assinale o item cujo texto não
apresente as características apontadas.
a) Já da morte o palor me cobre o rosto,
Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece,
E devora meu ser mortal desgosto!
(Álvares de Azevedo)
b) Ah!, findou para mim tão leda sorte;
Agora é só feliz minha existência
No mudo estado, que arremeda a morte.
(Bocage)
c) A filha de Araquém sentiu afinal que
suas veias se estancavam; e contudo o lábio
amargo de tristeza recusava o alimento que
devia restaurar-lhe as forças. O gemido e o
suspiro tinham crestado com o sorriso o sabor em sua boca formosa.
(José de Alencar, Iracema )
d) E que farias tu da vida sem a tua companheira de martírio? Onde irás tu aviventar
o coração que a desgraça te esmagou, sem
o esquecimento da imagem desta dócil mulher, que seguiu cegamente a estrela da tua
malfadada sorte?!
(Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição )
e) Eu morro qual nas mãos da cozinheira
O marreco piando na agonia...
Como o cisne de outrora... que gemendo
Entre os hinos de amor se enternecia.
(Álvares de Azevedo)