Não nos esqueçamos de que este é um tempo de abertura.
Vivemos sob o signo da anistia que é esquecimento, ou devia
ser. Tempo que pede contenção e paciência. Sofremos todo
ímpeto agressivo. Adocemos os gestos. O tempo é de perdão.
(...) Esqueçamos tudo isto, mas cuidado! Não nos
esqueçamos de enfrentar, agora, a tarefa em que
fracassamos ontem e que deu lugar a tudo isto. Não nos
esqueçamos de organizar a defesa das instituições
democráticas contra novos golpistas militares e civis para
que em tempo algum do futuro ninguém tenha outra vez de
enfrentar e sofrer, e depois esquecer os conspiradores, os
torturadores, os censores e todos os culpados e coniventes
que beberam nosso sangue e pedem nosso esquecimento.
Darcy Ribeiro. “Réquiem”, Ensaios insólitos.
Porto Alegre: L&PM, 1979.