Questões de Enem e Vestibulares: Literatura

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(UFSM) No conto “Felicidade clandestina” (1971), de Clarice Lispector, a narradora-personagem, cuja ambição é obter emprestado o livro As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato, descreve o exemplar como “um livro grosso, [...], um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o”. Na passagem destacada, o livro é representado como

Sobre a prosa de Clarice Lispector, considere as seguintes afirmativas:

I. A originalidade de sua obra, aliada à força de sua linguagem e à intensidade das emoções das suas personagens, provocou um incômodo estranhamento nos leitores. A crítica literária não compreendeu de imediato as inovações propostas em seu primeiro romance, Perto do coração selvagem.

II. A força e a síntese de seus textos aproximam sua prosa aos elementos da poesia, elementos que fizeram de Clarice uma escritora única em nossa Literatura.

III. A escritora adotou em sua obra elementos da introspecção psicológica tradicional ao desvendar o universo mental da personagem de forma linear.

IV. Sua linguagem é direta e simples: priorizou em sua obra as tradicionais técnicas de estrutura da narrativa.

V. Embora tenha iniciado sua carreira literária em uma época em que os romancistas brasileiros voltavam-se para a Literatura regionalista ou para a Literatura de denúncia social, Clarice priorizou elementos como o universalismo e os questionamentos existenciais inerentes ao ser humano.

Estão corretas:

(UEA - SIS) Depois de receber o aviso [de demissão] foi ao banheiro para ficar sozinha porque estava toda atordoada. Olhou-se maquinalmente ao espelho que encimava a pia imunda e rachada, cheia de cabelos, o que tanto combinava com sua vida. Pareceu-lhe que o espelho baço e escurecido não refletia imagem alguma. Sumira por acaso sua existência física? Logo depois passou a ilusão e enxergou a cara toda deformada pelo espelho ordinário: o nariz tornado enorme como o de um palhaço de nariz de papelão. Olhou-se e levemente pensou: tão jovem e já com ferrugem.

(Clarice Lispector. A hora da estrela, 1998.)

Considerando o contexto do romance, o trecho poderia ser interpretado como uma alegoria da

(FEI-SP) Trata-se do último livro publicado por Clarice Lispector, em vida, em 1977. A personagem protagonista é Macabéa, que acumula em seu corpo franzino todas as formas de repressão cultural, o que a deixa alheada de si e da sociedade.

As afirmações acima referem-se à obra:

Texto associado.

“(...) As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito. Ou, pelo menos, não era apenas isso. Meu enleio vem de que um tapete é feito de tantos fios que posso me resignar a seguir um fio só; meu enredamento vem de que uma história é feita de muitas histórias. (...)”

(de “Os desastres de Sofia”)

(...) Na verdade era uma vida de sonho. Às vezes, quando falavam de alguém excêntrico, diziam com a benevolência que uma classe tem por outra: “Ah, esse leva uma vida de poeta”. Pode-se talvez dizer, aproveitando as poucas palavras que se conheceram do casal, pode-se dizer que ambos levavam, menos a extravagância, uma vida de mau poeta: vida de sonho. Não, não era verdade. Não era uma vida de sonho, pois este jamais os orientara. Mas de irrealidade. (...)”

(de “Os obedientes”)

(UFPR – 2008) Com base nos fragmentos acima transcritos, extraídos de contos do livro Felicidade clandestina, de Clarice Lispector, considere as seguintes afirmativas:

I. Narrar ou deixar de narrar, avaliar de diferentes maneiras um mesmo fato narrado são hesitações frequentes dos narradores de Clarice Lispector. Como nos fragmentos acima, também em outros contos prioriza-se a abordagem da vida interior, própria ou alheia, revelando sutis alternâncias de percepção da realidade.

II. O aspecto metalinguístico está presente no primeiro fragmento.

III. Na ficção de Clarice Lispector, as diferenças entre a percepção masculina e a feminina não são tematizadas, pois o ser humano está sempre condenado a viver num mundo incompreensível.

IV. Na ficção de Clarice Lispector, apenas as personagens adultas têm consciência de seus processos interiores. As crianças e adolescentes sofrem o impacto de novas descobertas, mas sua inocência os afasta de qualquer comportamento perverso e os protege dos riscos de viver mais intensamente.

Assinale a alternativa correta.

Sobre as características da obra de Clarice Lispector, é correto afirmar:

Texto associado.

Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.

[...]

Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos – sou eu que escrevo o que estou escrevendo. [...] Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.

Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual – há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo – como a morte parece dizer sobre a vida – porque preciso registrar os fatos antecedentes.

LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro:  Rocco, 1998 (fragmento).

A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetória literária de Clarice Lispector, culminada com a obra A hora da estrela, de 1977, ano da morte da escritora. Nesse fragmento, nota-se essa peculiaridade porque o narrador

O Realismo, escola literária cujo principal representante brasileiro foi Machado de Assis, tem como característica principal a retratação da realidade tal qual ela é, fugindo dos estereótipos e da visão romanceada que vigorava até aquele momento. Sobre o contexto histórico no qual o Realismo esteve situado, são corretas as proposições:

I- O Brasil vivia tempos de calmaria política e social, havia um clima de conformidade, configurando o contentamento da colônia com sua metrópole, Portugal.

II- Em virtude das intensas transformações sociais e políticas, o Brasil é retratado com fidedignidade, reagindo às propostas românticas de idealização do homem e da sociedade.

III- O país vivia o declínio da produção açucareira e o deslocamento do eixo econômico para o Rio de Janeiro em razão do crescimento do comércio cafeeiro.

IV- Tem grande influência das teorias positivistas originárias na França, onde também havia um movimento de intensa observação da realidade e descontentamento com os rumos políticos e sociais do país.

V- Surgiu na segunda metade do século XX, quando no mundo eclodiam as teorias de expansões territoriais que culminaram nas duas grandes guerras. O Realismo teve como propósito denunciar esse panorama de instabilidade mundial.

Estão corretas:

Texto associado.

Havia cinco semanas que ali morava, e a vida era sempre a mesma, sair de manhã com o Borges, andar por audiências e cartórios, correndo, levando papéis ao selo, ao distribuidor, aos escrivães, aos oficiais de justiça. (…) Cinco semanas de solidão, de trabalho sem gosto, longe da mãe e das irmãs; cinco semanas de silêncio, porque ele só falava uma ou outra vez na rua; em casa, nada.

“Deixe estar, — pensou ele um dia — fujo daqui e não volto mais.”

Não foi; sentiu-se agarrado e acorrentado pelos braços de D. Severina. Nunca vira outros tão bonitos e tão frescos. A educação que tivera não lhe permitira encará-los logo abertamente, parece até que a princípio afastava os olhos, vexado. Encarou-os pouco a pouco, ao ver que eles não tinham outras mangas, e assim os foi descobrindo, mirando e amando. No fim de três semanas eram eles, moralmente falando, as suas tendas de repouso.

Aguentava toda a trabalheira de fora, toda a melancolia da solidão e do silêncio, toda a grosseria do patrão, pela única paga de ver, três vezes por dia, o famoso par de braços.

Naquele dia, enquanto a noite ia caindo e Inácio estirava-se na rede (não tinha ali outra cama), D. Severina, na sala da frente, recapitulava o episódio do jantar e, pela primeira vez, desconfiou alguma cousa. Rejeitou a ideia logo, uma criança! Mas há ideais que são da família das moscas teimosas: por mais que a gente as sacuda, elas tornam e pousam. Criança? Tinha quinze anos; e ela advertiu que entre o nariz e a boca do rapaz havia um princípio de rascunho de buço. Que admira que começasse a amar? E não era ela bonita? Esta outra ideia não foi rejeitada, antes afagada e beijada.

Trecho do conto Uns braços

(UNIFESP-2007)

De início, morar na casa de Borges era solitário e tedioso, o que levou Inácio a pensar em ir embora. Todavia, isso não aconteceu, sobretudo porque o rapaz

Texto associado.

Havia cinco semanas que ali morava, e a vida era sempre a mesma, sair de manhã com o Borges, andar por audiências e cartórios, correndo, levando papéis ao selo, ao distribuidor, aos escrivães, aos oficiais de justiça. (…) Cinco semanas de solidão, de trabalho sem gosto, longe da mãe e das irmãs; cinco semanas de silêncio, porque ele só falava uma ou outra vez na rua; em casa, nada.

“Deixe estar, — pensou ele um dia — fujo daqui e não volto mais.”

Não foi; sentiu-se agarrado e acorrentado pelos braços de D. Severina. Nunca vira outros tão bonitos e tão frescos. A educação que tivera não lhe permitira encará-los logo abertamente, parece até que a princípio afastava os olhos, vexado. Encarou-os pouco a pouco, ao ver que eles não tinham outras mangas, e assim os foi descobrindo, mirando e amando. No fim de três semanas eram eles, moralmente falando, as suas tendas de repouso.

Aguentava toda a trabalheira de fora, toda a melancolia da solidão e do silêncio, toda a grosseria do patrão, pela única paga de ver, três vezes por dia, o famoso par de braços.

Naquele dia, enquanto a noite ia caindo e Inácio estirava-se na rede (não tinha ali outra cama), D. Severina, na sala da frente, recapitulava o episódio do jantar e, pela primeira vez, desconfiou alguma cousa. Rejeitou a ideia logo, uma criança! Mas há ideais que são da família das moscas teimosas: por mais que a gente as sacuda, elas tornam e pousam. Criança? Tinha quinze anos; e ela advertiu que entre o nariz e a boca do rapaz havia um princípio de rascunho de buço. Que admira que começasse a amar? E não era ela bonita? Esta outra ideia não foi rejeitada, antes afagada e beijada.

E recordou então os modos dele, os esquecimentos, as distrações, e mais um incidente, e mais outro, tudo eram sintomas, e concluiu que sim.

Trecho do conto Uns braços

Analise as duas ocorrências:

… uma criança!

Criança?

Essas duas passagens mostram que