Questões de Enem e Vestibulares: 2017

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Texto associado.
Transforma-se o amador na coisa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho, logo, mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois com ele tal alma está liada.
Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim como a alma minha se conforma,
Está no pensamento como ideia;
E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.
(Luís de Camões, Lírica: redondilhas e sonetos, Rio de Janeiro: Ediouro / São Paulo: Publifolha, 1997, p. 85.)
Um dos aspectos mais importantes da lírica de Camões é a retomada renascentista de ideias do filósofo grego Platão. Considerando o soneto citado, pode-se dizer que o chamado “neoplatonismo” camoniano

Garcia tinha-se chegado ao cadáver, levantara o lenço e contemplara por alguns instantes as feições defuntas. Depois, como se a morte espiritualizasse tudo, inclinou-se e beijou-a na testa. Foi nesse momento que Fortunato chegou à porta. Estacou assombrado; não podia ser o beijo da amizade, podia ser o epílogo de um livro adúltero [...].

Entretanto, Garcia inclinou-se ainda para beijar outra vez o cadáver, mas então não pôde mais. O beijo rebentou em soluços, e os olhos não puderam conter as lágrimas, que vieram em borbotões, lágrimas de amor calado, e irremediável desespero. Fortunato, à porta, onde ficara, saboreou tranquilo essa explosão de dor moral que foi longa, muito longa, deliciosamente longa.

ASSIS, M. A causa secreta. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 9 out. 2015.

No fragmento, o narrador adota um ponto de vista que acompanha a perspectiva de Fortunato. O que singulariza esse procedimento narrativo é o registro do(a)

Textos e hipertextos: procurando o equilíbrio

Há um medo por parte dos pais e de alguns professores de as crianças desaprenderem quando navegam, medo de elas viciarem, de obterem informação não confiável, de elas se isolarem do mundo real, como se o computador fosse um agente do mal, um vilão. Esse medo é reforçado pela mídia, que costuma apresentar o computador como um agente negativo na aprendizagem e na socialização dos usuários. Nós sabemos que ninguém corre o risco de desaprender quando navega, seja em ambientes digitais ou em materiais impressos, mas é preciso ver o que se está aprendendo e algumas vezes interferir nesse processo a fim de otimizar ou orientar a aprendizagem, mostrando aos usuários outros temas, outros caminhos, outras possibilidades diferentes daquelas que eles encontraram sozinhos ou daquelas que eles costumam usar. É preciso, algumas vezes, negociar o uso para que ele não seja exclusivo, uma vez que há outros meios de comunicação, outros meios de informação e outras alternativas de lazer. É uma questão de equilibrar e não de culpar.

COSCARELLI, C.V. Linguagem em (Dis)curso, n. 3, set.-dez. 2009.

A autora incentiva o uso da internet pelos estudantes, ponderando sobre a necessidade de orientação a esse uso, pois essa tecnologia

Texto associado.
Durante dois anos o cortiço prosperou de dia para dia, ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado o Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância brutal de vida, aterrado defronte daquela floresta implacável que lhe crescia junto da casa (...). 
À noite e aos domingos ainda mais recrudescia o seu azedume, quando ele, recolhendo-se fatigado do serviço, deixava-se ficar estendido numa preguiçosa, junto à mesa da sala de jantar e ouvia, a contragosto, o grosseiro rumor que vinha da estalagem numa exalação forte de animais cansados. Não podia chegar à janela sem receber no rosto aquele bafo, quente e sensual, que o embebedava com o seu fartum de bestas no coito. (Aluísio de Azevedo, O cortiço. 14. ed. São Paulo: Ática, 1983, p. 22.) 
Levando em conta o excerto, bem como o texto integral do romance, é correto afirmar que 

A “lei do uso e desuso” defende que o uso constante de determinadas regiões do corpo promove seu desenvolvimento, levando à hipertrofia, enquanto o desuso resulta em sua atrofia. Por outro lado, a “lei da transmissão dos caracteres adquiridos” defendia que as alterações desenvolvidas no corpo de um indivíduo, pelo uso ou desuso, são transmitidas a sua prole.

Ao longo da década de 1870, o biólogo alemão August Weismann realizou experimentos de remoção de caudas de ratos em cinco gerações e comprovou que, ainda assim, seus descendentes nasciam com essa parte do corpo. Essa experiência simples refutava as ideias de que os caracteres adquiridos, pelo uso ou desuso, passam para as gerações futuras, como já fora proposto pelo evolucionista

A língua tupi no Brasil

Há 300 anos, morar na vila de São Paulo de Piratininga (peixe seco, em tupi) era quase sinônimo de falar língua de índio. Em cada cinco habitantes da cidade, só dois conheciam o português. Por isso, em 1698, o governador da província, Artur de Sá e Meneses, implorou a Portugal que só mandasse padres que soubessem “a língua geral dos índios”, pois “aquela gente não se explica em outro idioma”.

Derivado do dialeto de São Vicente, o tupi de São Paulo se desenvolveu e se espalhou no século XVII, graças ao isolamento geográfico da cidade e à atividade pouco cristã dos mamelucos paulistas: as bandeiras, expedições ao sertão em busca de escravos índios. Muitos bandeirantes nem sequer falavam o português ou se expressavam mal. Domingos Jorge Velho, o paulista que destruiu o Quilombo dos Palmares em 1694, foi descrito pelo bispo de Pernambuco como “um bárbaro que nem falar sabe”. Em suas andanças, essa gente batizou lugares como Avanhandava (lugar onde o índio corre), Pindamonhangaba (lugar de fazer anzol) e Itu (cachoeira). E acabou inventando uma nova língua.

“Os escravos dos bandeirantes vinham de mais de 100 tribos diferentes”, conta o historiador e antropólogo John Monteiro, da Universidade Estadual de Campinas. “Isso mudou o tupi paulista, que, além da influência do português, ainda recebia palavras de outros idiomas.” O resultado da mistura ficou conhecido como língua geral do sul, uma espécie de tupi facilitado.

ÂNGELO, C. Disponível em: http://super.abril.com.br. Acesso em: 8 ago. 2012 (adaptado).

O texto trata de aspectos sócio-históricos da formação linguística nacional. Quanto ao papel do tupi na formação do português brasileiro, depreende-se que essa língua indígena

Texto associado.
    (...) procurei adivinhar o que se passa na alma duma
cachorra. Será que há mesmo alma em cachorro? Não me
importo. O meu bicho morre desejando acordar num mundo
cheio de preás. Exatamente o que todos nós desejamos. A
diferença é que eu quero que eles apareçam antes do sono, e
padre Zé Leite pretende que eles nos venham em sonhos, mas
no fundo todos somos como a minha cachorra Baleia e
esperamos preás. (...)
                                             Carta de Graciliano Ramos a sua esposa.
    (...) Uma angústia apertoulhe o pequeno coração.
Precisava vigiar as cabras: àquela hora cheiros de suçuarana
deviam andar pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas.
Felizmente os meninos dormiam na esteira, por baixo do caritó
onde sinha Vitória guardava o cachimbo.
    (...)
    Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio
de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme.
As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio
enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio de
preás, gordos, enormes.
Graciliano Ramos, Vidas secas.
A comparação entre os fragmentos, respectivamente, da Carta e de Vidas secas, permite afirmar que
Texto associado.
Numa entrevista ao jornal El País em 26 de agosto de 2016, o jornalista Caco Barcellos comenta uma afirmação sua anterior, feita em um congresso de jornalistas investigativos, de que novos profissionais não deveriam “atuar como porta-vozes de autoridades”. “Tenho o maior encanto e admiração e respeito pelo jornalismo de opinião. O que critiquei lá é quando isso vai para a reportagem. Não acho legítimo. O repórter tem o dever de ser preciso. Pode ser até analítico, mas não emitir juízo. Na reportagem de rua, fico imbuído, inclusive, de melhor informar o meu colega de opinião. Se eu não fizer isso de modo preciso e correto, ele vai emitir um juízo errado sobre aquele universo que estou retratando. E não só ele, mas também o advogado, o sociólogo, o antropólogo e mais para frente o historiador (...) Por exemplo, essa matança que a polícia militar provoca no cotidiano das grandes cidades brasileiras – isso é muito mal reportado pela mídia no seu conjunto. Quem sabe, lá no futuro, o historiador não passe em branco por esse momento da história. Não vai poder dizer ‘olha, os negros pobres do estado mais rico da federação estão sendo eliminados com a frequência de três por dia, um a cada oito horas’. Se o repórter não fizer esse registro preciso e contundente, a cadeia toda pode falhar, a começar pelo jornalista de opinião.” (“Caco Barcelos: ‘Erros históricos nascem da imprecisão jornalística’ ”. El País. 26/08/2016. Entrevista concedida a Camila Moraes. Disponível em https://brasil.elpais.com/brasil/2016/07/19/cultura/1468956578_924541.html. Acessado em 13/07/2017.)
De acordo com a posição defendida por Caco Barcellos com relação a seus leitores, uma reportagem exige do jornalista

Segundo quadro

Uma sala da prefeitura. O ambiente é modesto. Durante a mutação, ouve-se um dobrado e vivas a Odorico, “viva o prefeito” etc. Estão em cena Dorotéa, Juju, Dirceu, Dulcinéa, o vigário e Odorico. Este último, à janela, discursa.

ODORICO — Povo sucupirano! Agoramente já investido no cargo de Prefeito, aqui estou para receber a confirmação, a ratificação, a autenticação e por que não dizer a sagração do povo que me elegeu.

Aplausos vêm de fora.

ODORICO — Eu prometi que o meu primeiro ato como prefeito seria ordenar a construção do cemitério.

Aplausos, aos quais se incorporam as personagens em cena.

ODORICO — (Continuando o discurso:) Botando de lado os entretantos e partindo pros finalmente, é uma alegria poder anunciar que prafrentemente vocês já poderão morrer descansados, tranquilos e desconstrangidos, na certeza de que vão ser sepultados aqui mesmo, nesta terra morna e cheirosa de Sucupira. E quem votou em mim, basta dizer isso ao padre na hora da extrema-unção, que tem enterro e cova de graça, conforme o prometido.

GOMES, D. O bem amado. Rio de Janeiro: Ediouro, 2012.

O gênero peça teatral tem o entretenimento como uma de suas funções. Outra função relevante do gênero, explícita nesse trecho de O bem amado, é

Texto associado.
TEXTO
1 O castelo, a igreja e a cidade foram cenários de teatro.
É sintomático que a Idade Média tenha ignorado um lugar
próprio para o teatro. Os palcos e as encenações eram
4 improvisados onde houvesse um centro de vida social. Na
igreja, as cerimônias religiosas eram festas, e do drama
litúrgico é que saiu o teatro. No castelo, os banquetes, torneios,
7 espetáculos de trovadores, jograis, dançarinos e domadores de
ursos se sucediam. Nas cidades, teatros mambembes
ergueram-se nas praças. Todas as classes sociais faziam das
10 festas familiares cerimônias ruinosas: os casamentos deixavam
os camponeses empobrecidos por anos e os senhores, por
meses. Os jogos exerciam uma sedução singular sobre a
13 sociedade. Escrava da natureza, ela entregava-se ao acaso: os
dados rolavam em todas as mesas. Prisioneira de estruturas
sociais rígidas, ela transformou a própria estrutura social em
16 um jogo.
Jacques Le Goff. A civilização do ocidente medieval.
Bauru: EDUSC, 2005, p. 362 (com adaptações).
No que se refere ao trecho de texto apresentado e aos múltiplos aspectos a ele relacionados, julgue o item seguinte.
O castelo medieval, símbolo de poder no feudalismo, desempenhava diversas funções: abrigava a família senhorial e seus dependentes, funcionava como tribunal de justiça, servia de local para acordos e negócios e constituía base militar de defesa a ataques.